A Montanha dos Sete Abutres
Charles Tatum, interpretado por Kirk Douglas, é um jornalista que, após perder diversos empregos em jornais grandes, consegue se empregar no pequeno jornal de uma cidade interiorana chamada Albuquerque. Contudo, manter-se nesse jornal não é a meta de Tatum, que espera ansiosamente por um furo de reportagem que o recoloque na grande imprensa. Inescrupuloso e capaz de manipular, distorcer ou inventar fatos, Tatum está disposto a tudo para conseguir a grande matéria que o levará de volta para a sua antiga posição.Um tanto contrariado e a pedido de seu editor, Tatum é enviado para cobrir uma caça às cascavéis em uma cidade vizinha. É justamente nessa viagem que ele se depara com a aguardada grande notícia. E como o próprio Tatum prega que “a morte de centenas ou milhares de pessoas não tem o mesmo interesse que a morte de uma única pessoa”, um homem, Leo Minosa, que está praticamente soterrado numa caverna, vira presa fácil para um jornalista ambicioso e meticuloso que está em busca de uma grande matéria.O desfecho da história se torna um tanto óbvio para quem percebe que o jornalista descarta a necessidade da veracidade para a notícia. Tatum debocha do quadro escrito “diga a verdade”, posto na redação do jornal. Aproveitando a ambição pessoal da mulher de Minosa e do Xerife, Tatum consegue corromper a todos, incluindo também o fotógrafo, que acaba ignorando seus princípios perante a idéia de sucesso de Tatum.O filme, apesar de ter sido produzido na década de 50, mostra um pouco das trapaças e falcatruas que naqueles tempos eram absurdos e chocantes (basta notar a reação do editor do jornal quando Tatum faz seus comentários) e que hoje nada mais são do que normais, naturais e até mesmo aceitáveis. A Montanha dos Sete Abutres é retrato do que era e ainda é o meio jornalístico (ainda com mais densidade que antigamente), o que o torna, por si só, atual.É possível notar na imprensa (principalmente na grande imprensa) o quanto alguns profissionais (da informação) não estão preocupados com a notícia, mas, sim, com a autopromoção. Transformam notícias em mercadorias, apenas mais um produto para ser colocado no mercado e consumido. Portanto, manipulam-se fatos para tornar a matéria mais atraente para uma população que também está preocupada em apenas consumir e não em se informar, ignorando questões básicas e não questionando a veracidade (ou qualquer coisa que o valha). Tatum é o arquétipo desse tipo de jornalismo, capaz até mesmo de “morder um cachorro” na falta de notícias.O filme, apesar de ser considerado um clássico do cinema americano, sofreu algumas dificuldades quando lançado, o que já devia ser esperado. Afinal, ele não poderia ser bem aceito pela imprensa marrom que se sentiu atacada, e nem pelo público que se viu caricaturado.Billy Wilder produziu um filme que, se é clássico, é o muito mais para o jornalismo, merecendo, portanto, espaço e discussão em torno dele nos cursos de Comunicação para sabermos o que queremos fazer e o que está sendo feito com a informação nos dias de hoje.
domingo, 7 de dezembro de 2008
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