domingo, 7 de dezembro de 2008

A Montanha dos Sete Abutres

A Montanha dos Sete Abutres
Charles Tatum, interpretado por Kirk Douglas, é um jornalista que, após perder diversos empregos em jornais grandes, consegue se empregar no pequeno jornal de uma cidade interiorana chamada Albuquerque. Contudo, manter-se nesse jornal não é a meta de Tatum, que espera ansiosamente por um furo de reportagem que o recoloque na grande imprensa. Inescrupuloso e capaz de manipular, distorcer ou inventar fatos, Tatum está disposto a tudo para conseguir a grande matéria que o levará de volta para a sua antiga posição.Um tanto contrariado e a pedido de seu editor, Tatum é enviado para cobrir uma caça às cascavéis em uma cidade vizinha. É justamente nessa viagem que ele se depara com a aguardada grande notícia. E como o próprio Tatum prega que “a morte de centenas ou milhares de pessoas não tem o mesmo interesse que a morte de uma única pessoa”, um homem, Leo Minosa, que está praticamente soterrado numa caverna, vira presa fácil para um jornalista ambicioso e meticuloso que está em busca de uma grande matéria.O desfecho da história se torna um tanto óbvio para quem percebe que o jornalista descarta a necessidade da veracidade para a notícia. Tatum debocha do quadro escrito “diga a verdade”, posto na redação do jornal. Aproveitando a ambição pessoal da mulher de Minosa e do Xerife, Tatum consegue corromper a todos, incluindo também o fotógrafo, que acaba ignorando seus princípios perante a idéia de sucesso de Tatum.O filme, apesar de ter sido produzido na década de 50, mostra um pouco das trapaças e falcatruas que naqueles tempos eram absurdos e chocantes (basta notar a reação do editor do jornal quando Tatum faz seus comentários) e que hoje nada mais são do que normais, naturais e até mesmo aceitáveis. A Montanha dos Sete Abutres é retrato do que era e ainda é o meio jornalístico (ainda com mais densidade que antigamente), o que o torna, por si só, atual.É possível notar na imprensa (principalmente na grande imprensa) o quanto alguns profissionais (da informação) não estão preocupados com a notícia, mas, sim, com a autopromoção. Transformam notícias em mercadorias, apenas mais um produto para ser colocado no mercado e consumido. Portanto, manipulam-se fatos para tornar a matéria mais atraente para uma população que também está preocupada em apenas consumir e não em se informar, ignorando questões básicas e não questionando a veracidade (ou qualquer coisa que o valha). Tatum é o arquétipo desse tipo de jornalismo, capaz até mesmo de “morder um cachorro” na falta de notícias.O filme, apesar de ser considerado um clássico do cinema americano, sofreu algumas dificuldades quando lançado, o que já devia ser esperado. Afinal, ele não poderia ser bem aceito pela imprensa marrom que se sentiu atacada, e nem pelo público que se viu caricaturado.Billy Wilder produziu um filme que, se é clássico, é o muito mais para o jornalismo, merecendo, portanto, espaço e discussão em torno dele nos cursos de Comunicação para sabermos o que queremos fazer e o que está sendo feito com a informação nos dias de hoje.

Admiravel Mundo Novo

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO(Aldous Huxley)
Em Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley cria uma utopia aparentemente impossível, mas que mantém profundas relações com a história do homem. Especialmente com o momento em que o livro foi escrito. Mas antes de quaisquer considerações façamos um pequeno estudo das personagens.
Bernard Marx é a prova viva de que o sistema é falho. O álcool colocado em seu sangue artificial produziu uma variação indesejada: um homem de casta superior com características de casta inferior que recusa-se a usar soma e é capaz de criticar a sociedade em que vive e interessar-se por outras formas de organização social. Bernard é um homem profundamente dividido entre o programa e a necessidade de livrar-se dele, por isso às vezes acaba tomando soma. A semelhança entre Bernard Marx e Karl Marx é apenas nominal.
Através do selvagem Bernard conseguiu livrar-se da ameaça de transferência para Islândia e tornar-se um homem desejado pelas mulheres. O diferente usa o diferente para parecer igual. Porém, logo a arrogância de Bernard começou a atrair o ódio dos seus iguais (em razão de parecer diferente). Como nem mesmo o programa social é capaz de eliminar os piores sentimentos humanos, ficamos com a nítida impressão de que o behaviorismo é ineficiente. Esta idéia é "reforçada" através da reação das personagens quando o selvagem recusa-se a apresentar-se na festa (humilham Bernard e deixam claro que pretendem vingar o ultraje).
O Diretor de Incubação e Condicionamento (D.I.C.) é um homem ortodoxo. Para ele nada é mais importante que a manutenção do programa. Por isso resolve transferir Bernard Marx para a Islândia quando descobre que há algo diferente em seu comportamento. Entretanto, o próprio D.I.C. também teve seu momento de fraqueza. Exatamente como Bernard interessou-se pela vida na reserva, que visitou em companhia de Linda. Abandonou sua acompanhante à própria sorte entre os selvagens, onde ela acabou dando a luz ao seu filho:- John. A sugestão óbvia é de que a conduta de Bernard segue, portanto, um padrão idêntico ao do Diretor.
Linda era uma jovem exatamente igual às outras de sua casta. Depois que foi deixada na reserva tornou-se mãe, envelheceu e ficou gorda. Uma mulher horrível, totalmente diferente das mulheres da civilização. Seus hábitos sexuais acabam lhe valendo problemas na tribo, onde a monogamia era praticada. Na ausência de soma toma Peytl e Mescalina, drogas produzidas pelos indígenas do Novo México que se tornaram populares durante a década de 60 entre os jovens americanos. A história de Linda mantém relações evidentes com o mito da queda. Ela estava no paraíso (civilização) e acabou sendo lançada no mundo (reserva). Em seu novo lar experimenta a privação, o sofrimento e a velhice. Sofre em razão de suas atribulações e da lembrança da vida que tinha outrora.
John foi criado entre os selvagens, mas não como um deles. Segregado pelos demais garotos, teve uma infância difícil. Jonh odiava os amantes de sua mãe, especialmente Popé, a quem tentou matar. Por issso, podemos concluir que o garoto sofre de complexo de Édipo. O ritual de passagem para a vida adulta foi lhe negado. Sua educação foi feita com base nas peças de Shakespeare, dramaturgo inglês que encarava o sexo com o pudor natural de sua época. Entretanto, como este tipo de conhecimento não é valorizado nem na reserva nem na civilização, segue-se que John passa a ser mais discriminado em razão dele. Chega ao Admirável Mundo Novo virgem e recusa-se a copular com Lenina, a quem acusa de prostituta. Como não consegue adaptar-se entre os civilizados, foge e acaba se tornando uma espécie de atração turística.
O selvagem faz constantes referências às peças de Shakespeare. O que para nós seria índice de refinamento e civilidade é uma constante fonte de problemas para John. A inversão feita pelo autor causa um certo desconforto no leitor em razão do seu elevado valor simbólico. Shakespeare é considerado o maior dramaturgo ocidental e sua desvalorização não poderia passar desapercebida. Se a intenção do autor é fazer o leitor refletir sobre as relações entre civilização e barbárie a referência ao dramaturgo é adequada. Afinal a matéria prima das peças de Shakespeare são justamente os piores sentimentos humanos (cobiça, inveja, ciúmes, vingança, etc).
Há uma certa semelhança entre John e Bernard, afinal ambos são segregados e sofrem as conseqüências em razão de serem diferentes. O selvagem morrendo e Bernard sendo enviado para uma ilha.
A mais importante personagem feminina chama-se Lenina. Aqui a referência é a Lenin, ideólogo da revolução bolchevique e governante da russia de 1917 a 1923.O responsável pela reprodução em série chama-se Henry Foster. Ele tem, portanto, um nome muito parecido com o inventor da linha de montagem (Henry Ford).
Benito Hoover é um homem atento à tudo que acontece à Bernand. Vigia-o como se fosse um investigador ou um ditador. O nome da personagem mantém relações claras com seu caráter:- Benito Hoover é a união dos nomes do ditador italiano dos anos 30 e do Diretor do FBI americano por quase três décadas (Benito Mussolini e J. Edgard Hoover).
Helmholtz Watson, o amigo de Bernard Marx, leva a alcunha de um dois pais do behaviorismo. Sofre de um excesso mental em razão do qual também pode ser considerado como uma falha no programa. Helmholtz entrega-se à poesia lírica e é condenado ao isolamento numa ilha. Suporta com estoicismo a condenação e escolhe ser mandado para as Ilhas Falklands. O banimento de Helmholtz lembra o de outro poeta.. Após a Revolução de 1917 Puchkim, que foi o maior poeta romântico russo, foi banido da Russia. Apesar de sua importância para a literatura russa, suas obras foram proibidas e ele caiu no esquecimento até ser reabilitado durante a Perestroika de Gorbachev nos anos 80.
É evidente a semelhança entre a descrição de Mustafá Mond e Adolf Hitler. Ambos tinham estatura média, cabelos pretos, nariz curvo, lábios vermelhos e carnudos e olhos muito escuros e penetrantes. Note-se que o D.I.C. salda-o com a mão estendida. Qualquer semelhança entre esta saudação e a saudação nazista é mera semelhança (intencional). Não podemos nos esquecer que o Fürer chegou ao poder na Alemanha em 1930, portanto, dois anos antes da publicação do livro. Mustafá Mond justifica a organização da sociedade em castas no fato dos trabalhadores gostarem de suas tarefas mesmo que elas sejam odiosas. Este argumento é absolutamente inválido, afinal os membros das classes inferiores foram condicionados a gostar de seus trabalhos. Em razão imobilidade social não tiveram e não terão a oportunidade de provar algo diferente.
Joana Diesel é a um só tempo a heroina francesa (Joana D'Arc) e o combustível que move a América (diesel). Morgana Rothschild leva o nome da irmã do Rei Arthur e mãe de Mordred (Morgana) e o nome de uma das mais tradicionais famílias de magnatas americanos (Rothschild). Herbert Bakunin é o resultado da estranha união entre o sociólogo inglês (Herbert Spencer) com o anarquista russo (Bakunin). Sarojoni Engles leva o nome do parceiro de Karl Marx e Polly Trotsky o do lider russo que ajudou a organizar o Exército Vermelho e foi banido da URSS por Stalim. O jornalista Darwim Bonaparte leva o nome do pai da teoria da evolução das espécies (Charles Darwim) e do corso que tornou-se imperador francês após o Regime do Terror (Napoleão Bonaparte)
A narrativa é linear com predomínio da sinestesia. A linguagem é acessível, apesar dos neologismos inventados pelo autor para descrever sua utopia futurista. Apesar da linearidade da narrativa, no capítulo 3 o leitor é obrigado a reconstruir a unidade dos diálogos fragmentados, intercalados. A destruição da organização linear do discurso é sem dúvida alguma uma proposta moderna que se harmoniza perfeitamente à proposta do livro de chocar o leitor.
Também é moderno o tratamento dado pelo autor ao tempo. A princípio, vale notar que o tempo interno da narrativa é de algumas semanas, poucas (cap. 18). No capítulo 8 temos um longo flash-back em que o narrador se ocupa da infância de John. Nele, o tempo é cronológico, mas apresenta uma segmentação que lembra um fluxo de consciência (como se a própria personagem estivesse narrando sua história). No capítulo 13 o autor interrompe a narrativa para explicar o que aconteceu vinte e dois anos depois ao indivíduo que ficou sem a vacina que deveria ser e não foi aplicada por Lenina ao feto. Esta é a maneira que o autor encontra para fornecer uma uma pista do que poderia ter acontecido a Bernard.
Huxley abusa da ironia. No capítulo 5 é narrado o encontro entre um casal absolutamente incrível:- Lenina e Henry Foster. A sugestão é de que entre o regime socialista concebido por Lenin e o sistema de produção capitalista criado por Henry Ford não há diferença qualitativa. Ambos são perfeitos para explorar a força de trabalho das classes subalternas, por isso podem tornar-se parceiros e manter relações amistosas. Não foi a toa, portanto, que foi possível a união entre EUA e URSS na II Guerra Mundial. O jogo irônico com os nomes não para aí. No capítulo 6 o narrador afirma que "...estranho era o juízo de Lenina sobre Bernard Marx." Lenin se pretendia um fiel interprete de Karl Marx e nunca materia um juízo estranho sobre o mestre. No capítulo 2 é feita uma breve referência a Kant ("...sibilava com o imperativo categórico"). Em sua "Crítica da Razão Pura", Immanuel Kant defendeu a existência de categorias cognoscitivas inatas. Sua teoria vai de encontro ao behaviorismo, que postula que tudo é aprendido. Há, portanto, uma ironia muito refinada na citação. Logo depois, o narrador refere-se à Consciência de Classe. E aí temos uma nova espetada na URSS, que procurou condicionar seus trabalhadores a se esforçarem o máximo com o mínimo de retorno exatamente em nome da consciência de classe.
A primeira coisa que chama atenção no livro é a maneira como o tempo é contado no livro. A era cristã já findou. Os anos são contados a partir de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas a partir do nascimento de Nosso Ford. A alusão é clara a Henry Ford, o criador da linha de montagem, do processo industrial que revolucionou o capitalismo no início deste século XX. É natural que numa sociedade massificada em que as pessoas são produzidas em série (inclusive com as mesmas características genéticas), Cristo tenha perdido sua importância e Ford seja reconhecido como se fosse um deus.
A divisão de óvulos para produção de 96 seres humanos onde antes nascia apenas um é chamado de Processo Bokanovsky. O nome do processo é sem dúvida alguma russo. Daí a crítica sutil à URSS, que a partir da revolução usou o sistema educacional para construir sociedade baseada no novo homem, desprovido de individualidade e devotado à causa socialista.
O Admirável Mundo Novo é uma sociedade de castas. Em sociedades similares não há mobilidade social, inexistindo conflito entre as classes sociais (pelo menos teoricamente). Até bem pouco tempo a Índia era uma sociedade organizada desta maneira e até mesmo a religião justificava a imobilidade social. Sociedades assim tendem a seduzir muito homens que acreditam que a ordem está acima de tudo. Até mesmo Platão sentiu-se tentado pela idéia, organizando sua República ideal em castas:- rei filósofo, comerciantes, artesãos, soldados e agricultores.
Os trabalhadores são condicionados desde logo às vicissitudes que enfrentarão ao longo de suas existências. Assim, se acostumarão à elas como se fossem naturais e não desejarão melhorias nas condições de trabalho. Não há diferença entre o condicionamento dos operários e o ideal capitalista de trabalhadores satisfeitos, mesmo diante das piores condições de trabalho.
Nas Salas de Condicionamento Neopavloviano, os bebes das classes inferiores são condicionados a não gostar de livros. Pavlov, cientista russo que estudou o reflexo condicionado fazendo experiências com cães, serve de inspiração para Huxley conceber o mais eficiente sistema educacional já existente. Quase tão eficiente quanto o brasileiro na atualidade. Alguém já se perguntou porque não são tomadas medidas para reverter o quadro atual da Escola no Brasil? Porque ela tem que desenvolver nos alunos uma verdadeira repulsa pelo conhecimento?
Huxley leva ao extremo as experiências feitas com crianças pelos primeiros behavioristas. Seu intuito óbvio é questionar profundamente esta teoria psicológica que estava na moda no início do século. Note-se que desde logo é admitida a hipótese de descondicionamento através do acesso ao conhecimento. Ora, se o conhecimento é capaz de modificar o programa, segue-se que o behaviorismo é uma teoria falha.
A sociedade futurista do livro é sustentada pelo soma e pelos jogos. A semelhança entre a utopia de Huxley e Roma Imperial é notável. Afim de conter a plebe, os patrícios e os imperadores romanos faziam o que era necessário para manter o abastecimento de pão e vinho na cidade. O vinho não é tão inofensivo quanto o soma, mas também é capaz de embriagar. Os jogos realizados regularmente no circo romano visavam divertir e desviar a atenção da plebe dos problemas do cotidiano, justamente como os esportes praticados no Admirável Mundo Novo.
O soma é consumido em três situações:- pelos operários após o trabalho, pelos membros da classe dominante a qualquer momento e em rituais coletivos. No Egito os escravos recebiam regularmente bebida alcoólica após os dias fatigantes de trabalhos forçados. O soma é racionado para os indivíduos das castas superiores. Os membros das classes superiores tem uma ração ilimitada da droga. Se considerarmos o soma=felicidade, vemos quanto o futuro se parece com a atualidade. Afinal, a felicidade tem um preço, mas nem todos podem comprá-la o tempo todo.
Não há novidade na utopia do escritor americano. Na verdade ele descreve um Admirável Mundo Velho. Um velho mundo capaz de renovar-se constantemente. Nesse particular, a única inovação de Huxley é conceber a diversão como um negócio muito rentável. Mas nem mesmo nesse ponto o autor distanciou-se da realidade tangível. Afinal, nos dias de hoje o entretenimento é uma das maiores cadeias econômicas no planeta.
Note-se, ademais, que desde o final do século passado as classes dominantes européias conheciam o ópio e a cocaína, drogas que foram largamente utilizadas por artistas. O soma utilizado pelas personagens é uma espécie de droga, com a diferença de que não produz efeitos colaterais. Por isso é a substância perfeita para preservar a felicidade alienada dos habitantes do Admirável Mundo Novo. Mas nem aqui há novidade, na mitologia védica milhares de anos antes de Cristo já vemos o culto ao deus Soma e a utilização de uma substância capaz de dissolver todas as angustias humanas (o soma). Este é um caso de perfeita identificação entre a utopia futurista e uma das mitologias mais antigas da raça humana.
Os jogos eróticos entre os jovens são incentivados no Admirável Mundo Novo. Também o foram na Alemanha nazista. Quando chegou ao poder, o Partido Nazista deflagrou seu plano de recomposição da população alemã, que havia sido muito degradada pela I Guerra Mundial. O Reich precisava de operários para as fábricas e de soldados para o exército e competia à juventude alemão repovoar a Alemanha.
Na sociedade concebida por Huxley vários livros são proibidos. Só dirigentes como Mustafá Mond tem o direito de violar as regras, tendo acesso aos livros banidos. Também aqui não há qualquer novidade. Durante toda Idade Média a Igreja manteve deu Index Librorum Proibitorum, banindo diversos livros e queimando seus autores (como Giordano Bruno, por exemplo). Apesar disso os membros do clero podiam estudar as obras proibidas. Entretanto, se vermos filmes de propaganda nazista da década de 30 descobriremos onde Huxley baseou-se para escrever seu livro. Os nazistas recolhiam e queimavam livros considerados proibidos para a glória do Reich. De qualquer maneira deve-se ressaltar que a existência de censura é uma prova de que o programa social é ineficiente, de que o conhecimento é capaz de descondicionar (libertar) os indivíduos. Nesse particular o livro não critica somente o totalitarismo como também a utilização que ele faz do behaviorismo já que o controle social sempre ineficiente.
No capítulo 16 há uma referência a um livro com o nome "MINHA VIDA E OBRA, POR NOSSO FORD". A referência é clara ao livro "Mein Kampf" escrito por Adolf Hitler e que se tornou uma espécie de bíblia na Alemanha nazista.
Os fundamentos da liberdade de consciência (arte e a ciência) foram suprimidos na civilização futurista de Huxley. Tudo está submetido à necessidade de manter a ordem "natural" das coisas. A imobilidade social é um valor fundamental que merece o sacrifício do espírito humano. Tendemos a ficar impressionados diante da utopia construída por Huxley. Mas o que é mais aterrador é que ela não é nova. Na Idade Média a Igreja submetia a arte e a ciência aos seus próprios interesses. Os cientistas e artistas que não atacassem os fundamentos da fé e da ordem feudal eram subvencionados, os dissidentes queimados. Não foi à toa que o feudalismo durou 13 séculos na Europa.
No Admirável Mundo Novo a família foi banida. A crítica que é feita à esta instituição é perfeitamente plausível. À época em que o livro foi escrito Sigmund Freud já observara quantos problemas a família monogâmica cristã trazia para o desenvolvimento psicológico de seus pacientes denunciando-o na sua obra "O mal estar da civilização".
Nenhum dos preconceitos científicos da época foi deixado de lado no livro. Nem mesmo as teorias racistas, que procuravam explicar a existência de relação entre caracteres físicos e as características psicológicas ("...O Dra. Wells me disse que as morenas de bacia larga, como eu, devem tomar...").
O comportamento sexual dos habitantes da utopia de Huxley é completamente diverso do nosso. Eles tem vários parceiros e encaram isso com naturalidade. Além disso, consideram uma depravação ter um parceiro só ou cultuar a fidelidade. É óbvio que o narrador pretende chocar o leitor colocando em xeque seus próprios preconceitos sexuais. Há uma curiosa relação entre a sexualidade humana e a política. A estabilidade política social depende da instabilidade das relações afetivas e da permissividade sexual. A instabilidade política decorre da estabilidade familiar, da repressão sexual. Novamente parece que o autor endossa a teoria esposada por Freud no seu "O mal estar da civilização".
Há uma perfeita sintonia entre a teoria que informa a organização do Admirável Mundo Novo e a história da civilização ocidental. Veja-mos, por exemplo, o caso de Roma. Enquanto era uma República em que se proibia o casamento entre as pessoas das duas ordens sociais (entre patrícios e plebeus), em que o sexo era encarado com certo pudor, havia instabilidade e conflito permanente em Roma. Os conflitos precipitaram o fim da República e o surgimento do Império. Nesse novo período, a repressão política conviveu com a absoluta permissividade sexual. Não há, portanto, qualquer novidade no fato de Roma ter sido menos instável como Império do que o foi como República.
Bernard critica o programa de condicionamento, através do qual "Sessenta e duas mil e quatrocentas repetições fazem uma verdade." Goebels, Ministro da Propaganda do III Reich, empregava o mesmo método na Alemanha nazista e admitia publicamente que acreditava que a verdade era uma mentira repetida constantemente.
As mulheres do Admirável Mundo Novo usam cinto malthusiano. A semelhança entre este objeto e o cinto de castidade que as mulheres eram obrigadas a utilizar na Idade Média é apenas simbólica. Afinal, ao contrário de suas antepassadas elas estão livres para ter múltiplos parceiros. O que chama a atenção na verdade é a referência a Thomas Malthus, economista político inglês que defendeu a tese de que a produção de alimentos cresce aritmeticamente enquanto a população cresce geometricamente. Sua tese levou-o a concluir que as classes inferiores deveriam praticar o celibato a fim de evitar a fome. Extremamente religioso, Malthus acreditava que o sexo não devia ser encarado como uma fonte de prazer e criticava os costumes dissolutos de seus contemporâneos que acarretavam a explosão demográfica. É profundamente irônica a relação estabelecida entre Malthus e a permissividade sexual na utopia futurista de Huxley.
Os mortos do Admirável Mundo Novo são cremados em escala industrial. No capítulo 16 Mustafá Mond cogita a hipótese de mandar os dissidentes para a câmara de gás. No final da II Guerra, quando os Aliados libertaram Aushwitz e Treblinkla, foi revelado ao mundo o que os nazistas estavam fazendo com os judeus: envenenando-os em câmaras de gás e cremando-os aos milhares. Ao ler o livro ficamos com a impressão de que Aldous Huxley intuía o que estava por acontecer na Europa quando escreveu seu livro.
Entre os habitantes deste Novo Mundo são realizadas ritos muito semelhantes aos cultos dedicados o deus Baco (Dionisio entre os romanos). Os participantes se reúnem solenemente para tomar uma substância embriagante (vinho ou soma), cantam e dançam até entrarem em êxtase depois entregam-se freneticamente à cópula. Novamente a utopia de Huxley aproxima-se da história da civilização ocidental. Tanto que na reserva as personagens observam um ritual sincrético com elementos primitivos e cristãos que lembra um pouco aquele que é realizado civilização, com exceção do sexo grupal.
O desenvolvimento do romance depende fundamentalmente da dialética entre a civilização e a reserva indígena. Na confluência entre ambas encontra-se o protagonista. Filho de uma civilizada, John é educado mas não aceito como selvagem. Na civilização também não é tratado como civilizado. Acaba se transformando numa espécie de joguete, que Bernard usa para granjear reputação. Sua inadequação depende menos de sua origem do que da maneira como ele é encarado pelos demais:- civilizado para os selvagens e selvagem para os civilizados, John está desde logo sujeito ao isolamento.
Na civilização é consumido o soma, na reserva o Peyotl e a Mescalina. A utilização de drogas tem a mesma finalidade nas duas comunidades: manter a estabilidade social através da fuga. A princípio a única diferença é que o soma não traz efeitos colaterais indesejáveis como o Pyotl e a Mescalina. Todavia, no capítulo 11 ficamos sabendo que a utilização excessiva de soma acarreta parada respiratória (é assim que Linda morre). Não é difícil perceber que o autor sugere que a natureza humana é a mesma nos dois ambientes, que a diferença entre a civilização e a reserva é apenas aparente.
Como envelhecem e passam por dificuldades, os índios da reserva precisam de Deus. Em virtude de permanecerem jovens até o momento da morte, os civilizados não precisam Dele. Basta-lhes o culto ao Nosso Ford, que tem uma finalidade orgânica. A busca da juventude eterna sempre teve um caráter demoníaco. Por isso mesmo Fausto faz um pacto com Mephistófeles para rejuvenescer a fim de possuir Margarida. Daí podemos fazer uma clara associação entre o Admirável Mundo Novo e o Inferno de Dante, onde as coisas se repetem sempre e sempre indefinidamente.
E por falar em isolamento, deve-se ressaltar que a reserva é completamente isolada da civilização. É mantida numa espécie de Caixa de Skinner Gigante em que os membros das castas superiores da civilização fazem suas experiências. Alheios aos experimentos, os selvagens levam suas vidas como se nada estivesse acontecendo. Isso é possível porque rejeitam os valores civilizados. De certa maneira a reserva depende menos da civilização do que esta daquela. Mesmo presos os índios são independentes, enquanto a civilização precisa observá-los para aperfeiçoar-se. Daí porque a civilização realiza despesas com os selvagens quando poderia simplesmente exterminá-los.
Uma das maneiras mais eficientes que a civilização encontra para banir do cotidiano a animalidade de seus membros é o consumo excessivo de perfumes. Tanto que quando chegam à reserva a primeira coisa que chama a atenção de Lenina é o mal cheiro dos selvagens. Se pudesse sentir seu próprio cheiro depois de alguns dias sem banho e sem utilizar perfumes, certamente Lenina se surpreenderia quando selvagem também ela poderia ser. Nesse particular é óbvia a intenção do autor de colocar o leitor com sua própria realidade. Afinal, no ocidente a utilização de substâncias aromáticas é uma constante desde a antigüidade clássica.
Apesar do cheiro agradável, a civilização convive com a barbárie. Prova disso é o que acontece quando o selvagem impede a distribuição de soma. Descontrolados os operários passam a agredi-lo e são pacificados como se fossem animais.
A estrutura da obra apresenta vários níveis de complicação. O primeiro quando o selvagem chega à civilização. O segundo quando é apresentado ao D.I.C. acarretando sua humilhação. O terceiro quando Mustafá Mond resolve punir Bernard em razão de sua insolência. O quarto quando o selvagem recusa-se a sair do quarto e apresentar-se aos convidados de Bernard. O quinto quando morre Linda e o selvagem resolve interferir na ordem "natural" das coisas impedindo a distribuição de soma aos trabalhadores.
No cinema sensível o selvagem assiste a um filme que veicula preconceito racial. Um negro descontrolado rapta uma branca, abusa dela é preso e enviado para o recondicionamento. O negro representa o elemento primitivo que deve ser controlado. Mais que isto, simboliza a barbárie que o homem branco é incapaz de ver em si mesmo na medida em que segrega o outro. Através deste ícone, Huxley atinge em cheio um dos fundamentos da sociedade americana do início do século:- o regime de separação racial e a ausência de direitos civis dos negros.
No final do livro Bernard e Helholtz são removidos para ilhas. Em razão de suas próprias características geográficas elas lembram prisões:- um lugar do qual é impossível sair sem a ajuda de alguém ou de algo. Este símbolo, que bastaria por si só para dar ao leitor uma idéia da condenação das personagens, é reforçado pelo fato de que no início do século era comum a utilização de ilhas como prisões. Até mesmo o Brasil, que começou como uma grande colônia penal, teve sua Ilha Grande.
John resolve fugir. Os acontecimentos posteriores nos levam a ter a impressão de que sua derrota é completa. Seu esconderijo é descoberto. Darwin Bonaparte filma-o e se torna famoso em razão do sucesso do filme. Logo vêem os repórteres e os curiosos. A vida de John se torna um inferno. Lenina procura-o com outros jovens de castas superiores. Depois de agredi-la, participa de um ritual dionisíaco com os civilizados e suicida-se. Antes porém, para evitar a tentação de uma outra mulher havia se jogado num arbusto espinhoso dilacerando seu corpo exatamente como São Benedito (486 a543 dc) o fez durante seu retiro.
A morte foi a única forma que John encontrou para afirmar sua liberdade e individualidade diante do mundo. É verdade que ele perde a vida, mas também é verdade que encontra a dignidade recusando-se a participar de uma sociedade massificada em que nem mesmo seu desejo de isolar-se é respeitado.

O Quarto Poder

O quarto poder é uma expressão criada para qualificar, de modo livre, o poder da mídia ou do jornalismo em alusão aos outros três poderes típicos do Estado democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Essa expressão refere-se ao poder da mídia quanto a sua capacidade de manipular a opinião pública, a ponto de ditar regras de comportamento e influir nas escolhas dos indivíduos e por fim da própria sociedade.
Sobre o tema existe um filme assim nomeado em português, mas com título original "Mad City".
Quarto Poder também pode se referir ao MINISTÉRIO PÚBLICO, sendo que já existem pensamentos no sentido de que o Ministério Público é e vem atuando como um Quarto Poder. No Brasil, por exemplo, já é possível perceber que a sociedade, em muitas situações, já confia mais nessa instituição do que nos 3 (três) poderes do Estado.

Em Madeline, Califórnia, um repórter de televisão (Dustin Hoffman) que está em baixa, mas já foi um profissional respeitado de uma grande rede, está fazendo uma cobertura sem importância em um museu de história natural quando testemunha um segurança demitido (John Travolta) pedir seu emprego de volta e, não sendo atendido, ameaçar a diretora da instituição com uma espingarda. Ele nada faz com ela, mas acidentalmente fere com um disparo acidental um antigo colega de trabalho. O repórter, de dentro do museu, consegue se comunicar com uma estagiária que está em uma caminhonete nas proximidades, antes de ser descoberto pelo ex-segurança, que agora fez vários reféns, inclusive um grupo de crianças que visitavam o museu. Em pouco tempo um pedido de emprego e um tiro acidental se propagam de forma geométrica, atraindo a atenção de todo o país. O repórter convence ao segurança que este lhe dê uma matéria exclusiva e promete em troca comover a opinião pública com a triste história do guarda desempregado. É a sua chance de se projetar e voltar para Nova York, mas nem tudo acontece como o planejado. Os fatos são manipulados pela imprensa e tudo sai do controle, pois apenas altos salários e índices de audiência contam e a verdade não é tão importante assim.

Crise?

DE DEZEMBRO DE 2008 - 19h06
Indústria da crise: as ações da mídia no governo Lula
Desde que Luiz Inácio Lula da Silva chegou à presidência da República, a mídia se posicionou contraria à vontade das urnas e assumiu o papel de oposicionista juntamente com os partidos conservadores que sempre financiaram seus serviços, o PSDB, DEM/PFL e agora o PPS.

Por Carlinhos Medeiros, no blog Bodega Cultural
Se nos melhores momentos vividos pelo Brasil no governo Lula, com a criação de milhões de empregos com carteiras assinadas, indexação do salário mínimo acima da inflação, inflação sob controle e crescimento econômico sustentável a mídia inaugurou a indústria da crise, imagine agora com o colapso financeiro mundial ocasionado pela falta de planejamento adequado e responsável dos Estados Unidos.

Existe uma ansiedade visível, uma expectativa insigne de que seus efeitos apareçam por aqui o quanto antes e provoque os piores estragos possíveis e imagináveis para transformá-los em votos para o demotucanato.

A Folha de S.Paulo é a mais agourenta. Todos os dias saem de suas páginas online os "efeitos da crise" no Brasil e a teimosia de Lula em dizer que a onda é marolinha, mas a Globo é recordista em alarmes falsos.

“Montadoras têm 300 mil veículos e R$ 12 bi parados nos pátios”, “Dólar dispara e chega a R$ 2,50, a maior cotação desde 2005”, “Bolsa despenca”, “Petrobrás está falida” — com o olhar e o sorriso demoníaco dos presidenciáveis do PSDB, observando como chacais a hora de correr em cima da carniça,

Trabalhei com o Miguel Jorge numa grande montadora, de 1994 a 2000. Lembro-me que em 1996 tivemos que montar uma mega-operação de vendas com as concessionárias para colocar no mercado 400 mil veículos importados parados nos pátios e no Porto de Santos, nunca visto antes na história da indústria automobilística.

Montamos plantões de vendas direta em todos os shoppings do Brasil. Ao cabo de um mês, todo o estoque havia sido vendido e sem o estardalhaço da mídia, porque o chefe da nação era o privateiro sociólogo FHC.

"Tem horas que me sinto um Dom Quixote. Às vezes me sinto sozinho tentando pregar o otimismo", disse o presidente para uma platéia de artistas e intelectuais durante cerimônia de lançamento do Fundo Setorial do Audiovisual, no Palácio Gustavo Capanema.

Tá sim, Lula. Tá sozinho para os jornalões venais, mas não para os 70% de brasileiros que continuam otimistas e confiantes em você, como mostram os dados que eles precisam publicar, já que são os próprios que encomendam as pesquisas.

Cidadão Kane

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Sinopse: Quando dirigiu, produziu, protagonizou e foi co roteirista de Cidadão Kane, Welles tinha 25 anos e conquistara fama no rádio: em 1939 fez história ao transmitir programa que simulava uma invasão dos Estados Unidos por marcianos. A primeira entrada da reportagem no ar relatou acontecimentos imprecisos que, nos flashes seguintes, foram se tornando cada vez mais claros e ameaçadores; eram entrevistados populares, autoridades, especialistas etc., compondo um quadro cada vez mais assustador. Baseado no livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, o show radiofônico criou habilmente a ilusão de veracidade, levando os ouvintes ao pânico.Graças à notoriedade assim conquistada, o diretor novato recebeu da produtora RKO carta branca para dirigir e um orçamento generoso. Confirmando sua índole polêmica, ele fez um filme no qual se identificavam alusões ao magnata das comunicações William Randolph Hearst.A história conta como o repórter Thompson (Joseph Cotten) reconstitui a trajetória do empresário da imprensa Charles Foster Kane (Welles), buscando decifrar o significado de sua última palavra no leito de morte: "rosebud". A morte de Kane comovera a nação e descobrir o porquê daquela palavra se torna uma obsessão para o jornalista, que acredita poder encontrar nela a chave do significado daquela vida atribulada.O repórter entrevista, então, as pessoas próximas ao figurão. Um emaranhado de informações vai se costurando à frente dos olhos do espectador, desde a infância pobre, revelando um Kane por vezes perturbado, mas sempre ambicioso. Essa multiplicidade de fontes usadas pelo repórter cria um conjunto de perspectivas diferentes, funcionando como peças do quebracabeças que os espectadores vão montando.Kane herda uma fortuna e deixa de viver com os pais para ser criado por um banqueiro, Walter Parks Thatcher (George Coulouris). Dentre todos os negócios que passam às suas mãos na maioridade, resolve dedicar se a um dos menos rentáveis: um jornal convencional e pouco influente.Atraindo as estrelas dos veículos concorrentes com salários maiores e praticando um jornalismo agressivo (que freqüentemente descamba para o sensacionalismo), Kane consegue sucesso como homem de mídia, criando uma reputação de campeão dos pobres e oprimidos. Tenta carreira na política, concorrendo a governador como candidato independente; quando parece ter a vitória nas mãos, um escândalo provoca sua derrota. Depois de dois casamentos fracassados, passa seus últimos dias sozinho no palácio que construiu e para o qual levou tudo que o dinheiro podia comprar desde obras de arte de valor inestimável até os animais mais exóticos do planeta.O filme faz uso de flashbacks, sombras, tem longas seqüênciãs sem cortes, mostra tomadas de baixo para cima, distorce imagens para aumentar a carga dramática; a iluminação é pouco convencional, o foco transita do primeiro plano para o background, os diálogos são sobrepostos e os closes usados com contenção. Revolucionário.O personagem central vai, aos poucos, perdendo suas virtudes e aumentando seus defeitos. Pode ser visto retrospectivamente como alguém amargo, sombrio, arrogante, manipulador, cruel e impiedoso. Sua trajetória, no entanto, encerra muito do sonho americano: idealismo, espírito de iniciativa, fama, dinheiro, poder, mulheres, imortalidade.O óbvio paralelo de Kane (e seu Inquirer) com Hearst (e seu Exnminer) gerou controvérsias e pressões para impedir a montagem e exibição do filme. As similaridades são muitas: Kane construiu um palácio extravagante na Flórida, Hearst tinha um em San Simeon; o personagem teve um caso com uma cantora sem talento, Susan Alexander (Dorothy Comingore), lembrando o que Hearst teve com a jovem atriz Marion Davies. Enquanto o magnata da vida real comprou o estúdio Cosmopolitan Pictures para promover o estrelato de Davies, Kane comprou para Susan um teatro. Entretanto, enquanto Hearst nasceu rico, Kane era filho de uma família humilde.
Prêmios:Oscar: Vencedor dos Prêmio de Melhor Roteiro - Indiaco aos Prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Direção de Arte, Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Fotografia.Associação de Críticos de Nova York: Vencedor do Prêmio de Melhor Filme

Livro 1984 - Resumo

No livro conta-se a história de Winston, um apagado funcionário do Ministério da Verdade da Oceania e de como ele parte da indiferença perante a sociedade totalitária em que vive, passa à revolta, levado pelo amor por Júlia e incentivado por O'Brian, um membro do Partido Interno com quem Winston simpatiza; e de como acaba por descobrir que a própria revolta é fomentada pelo Partido no poder. E também de como, no Quarto 101, todo homem tem os seus limites.
A trama se passa na Pista No. 1, o nome da Inglaterra sob o regime totalitário do Grande Irmão (no original, Big Brother) e sua ideologia IngSoc, e conta a história de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, um órgão que cuida da informação pública do governo. Diariamente, os cidadãos devem parar o trabalho por dois minutos e se dedicar a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. Smith não tem muita memória de sua infância ou dos anos anteriores à mudança política e, ironicamente, trabalha no serviço de rectificação de notícias já publicadas, publicando versões retroactivas de edições históricas do jornal The Times. Estranhamente, ele começa a interessar-se pela sua colega de trabalho Julia, num ambiente em que sexo, senão para procriação, é considerado crime. Ao mesmo tempo, Winston é cooptado por O'Brien, um burocrata do círculo interno do IngSoc que tenta cooptá-lo a não abandonar a fé no Grande Irmão.
De fato, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas. George Orwell escreveu-o animado de um sentido de urgência, para avisar os seus contemporâneos e as gerações futuras do perigo que corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose - para poder acabá-lo. Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais da esquerda que percebeu para onde o stalinismo caminhava e é aí que ele vai buscar a inspiração - lendo Mil Novecentos e Oitenta e Quatro percebe-se que o Grande Irmão é baseado na visão de Orwell sobre os totalitarismos de vária índole que dominavam a Europa e Ásia na época. Stalin, também Hitler e Churchill foram algumas das figuras que inspiraram Orwell a escrever o romance.
O estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outros meios, pela manipulação da língua. Os especialistas do Ministério da Verdade criaram a Novilíngua, uma língua ainda em construção, que quando estivesse finalmente completa impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Uma das mais curiosas palavras da Novilíngua é a palavra duplipensar que corresponde a um conceito segundo no qual é possível o individuo conviver simultaneamente com duas crenças diametralmente opostas e aceitar a ambas.
Outra palavra da Novilíngua era Teletela, nome dado a um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto.
No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundo ele, o objectivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos.

A mídia não é culpada

O debate sobre a redução (ou não) dos números da violência em Pernambuco, convém lembrar, é um tema recorrente e antigo. Dele se ocuparam vários governadores num período recente e o aprofundamento no noticiário não coincide (como se pode pensar), com o aumento da violência, mas foi provocado por ela.
Mas não devem as autoridades da SDS de Pernambuco imaginar que a Imprensa se ocupa dele porque esse ou aquele Governo tomou posse. Se ocupa dele porque o nível de violência tem aumentado e, em até certo nível, se bestalizado. Noutro ela ficou tão comum à realidade social que é possível se fotografar crianças brincando próximas a um corpo a espera do caminhão do Instituto de Criminalística porque a presença do "rabecão" tornou-se comum. E isso é notícia.
O que parece acontecer com as autoridades policiais de Pernambuco é a constatação de que, apesar de todo o aparato operacional, procedimentos e recursos que estão sendo aplicados os resultados não estão aparecendo. E isso é mesmo frustrante.
Todos os atuais gestores certamente imaginaram no começo da gestão Eduardo Campos que os números cairíam. Que decorridos dois anos - como serão completado daqui a poucos dias - teriam números robustos que apontariam uma queda forte. Afinal é para isso que vêm trabalhando.
Mas isso, como se sabe, não aconteceu. E será difícil cair nos níveis desejados pelos gestores pernambucanos. E não cairá em Pernambuco porque não cairá no Ceará, no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Esta questão senhores não é só de Pernambuco. O que não nos isenta de trabalha duro para isso.
Então porque a crise do Governo com a Imprensa? Talvez porque os dirigentes da SDS tenham acreditado excessivamente que poderiam fazer diferente. O texto do Pacto pela Vida é um belíssimo documento onde um observador atento será capaz de datá-lo como típico dos primeiros dias de uma gestão quando os sonhos estão à flor da pele de gente que nunca esteve no Governo. Mas como se sabe não tinha um só número que tentasse mensurar os custos financeiros.
Talvez devesse conter uma frase simples já na primeira página dizendo que seria permanentemente atualizado. Talvez declarando uma coisa simples: indignação do novo Governo com cada morte banal.
O erro do governo na questão talvez tenha sido não abrir a conversa reconhecendo a grandeza da tarefa de reduzir a violência em Pernambuco. E sua insatisfação com isso. De revelar que segurança custa caro para um estado com recursos reduzidos. De mostrar para o cidadão contribuinte que é preciso aumentar o risco do crime. Risco que como todo negócio aumenta ou diminui diante da presença da polícia. Em manter a idéia quase adolescente de querer vencer a violência brigando com a Mídia. Em Pernambuco, senhores, vai perder sempre.
Por isso talvez fosse recomendável ter, a partir de agora, a humildade de mostrar que cada morte evitada é uma conquista a ser comemorada pela sociedade. Queixar-se da mídia só aumenta a idéia que não estavam maduros para o enorme desafio que lhe foi confiado.